Foram dois milhões de discos vendidos, numa trajetória relâmpago que durou cerca de um ano. Um fenômeno pop como há muito não se via no Brasil, e que foi violentamente interrompido por um acidente aéreo no dia 02 de março de 1996. Interrompido, mas não encerrado definitivamente. Visando conservar a memória desse atual trecho da história da cultura pop nacional, foi lançado o livro Mamonas Assassinas - O show deve continuar..., do escritor paulistano E. Chérri Filho.
A biografia da banda nascida em Guarulhos, São Paulo, foi planejada pelos familiares do vocalista Dinho, seus pais Célia e Hildebrando Alves, e pela editora Primeira Impressão. Chérri Filho foi incumbido de preparar o livro em dois meses, a tempo de entregá-lo para o lançamento no mesmo período do aniversário de Dinho, dia 05 de março (coincidentemente, também próximo à data da tragédia que o matou). O lançamento aconteceu no dia 07 de março passado, em Guarulhos, com direito a bandas covers, muitos fãs fantasiados, e familiares.
O escritor conta que, durante o processo de produção, chegou a passar 15h por dia diante do computador, pesquisando e escrevendo tudo sobre a vida da satírica banda de pop/rock. O resultado está em 176 páginas que narram toda a história do surgimento, auge e fim dos Mamonas. Chérri ficou por muito tempo em contato direto com os familiares do vocalista Dinho, colhendo depoimentos, histórias e detalhes pessoais sobre o grupo.
Os fãs e curiosos encontrarão histórias sobre a banda Utopia, que reuniu os membros originais do quinteto. Após a tentativa mal sucedida de tornar-se um novo Engenheiros do Hawai/Legião Urbana, o grupo acabou atingindo o sucesso com um estilo altamente próprio. Chamado jocosamente de "rock engraçadinho" pela imprensa, os Mamonas Assassinas abusavam de citações a outras bandas de rock, e letras com bastante escatologia e palavrões. O senso de humor infantil encantou, sobretudo, as crianças, maiores fãs da banda.
A abertura do livro, escrita por Lucimara Parisi, diretora de produção do programa Domingão do Faustão, resume um pouco da comoção causada pelos Mamonas, neste trecho: "As crianças no Brasil tinham sempre adoração pelas letras das músicas, sujeitas a objeções e fazendo paródias das letras originais. Eles gostavam muito das brincadeiras indecentes. Semelhantes aos Beavis e Butt-head nos Estados Unidos, qualquer coisa que divertisse as pessoas jovens era um jogo para a mídia. Para o desespero de muitos pais brasileiros, seus filhos eram os consumistas dos mais recentes lançamentos, com um apetite voraz.". Lucimara conhece Dinho desde a época do programa de rádio Balancê, que produzia com Fausto Silva.
A questão é: passados oito anos de seu desaparecimento, ainda há interesse pelos Mamonas Assassinas no Brasil? De acordo com Chérri, da parte dos ouvintes e consumidores de música pop, sim. Talvez nem tanto, da mídia. "O problema é que, a mesma imprensa que endeusava a banda, agora não liga mais para ela, acha que não dá mais retorno", reclama. Ele lembra que além do aniversário de morte do grupo, também houve a reabertura do processo sobre o caso do acidente, na justiça. "Ainda há fãs-clubes por todo o país, gente nova que descobre a música deles todo dia, e os reafirma como a grande banda pop nacional dos anos 90. O livro é uma forma de manter essa memória", conclui.
Uma trajetória de amizade e momentos marcantes da tv
Além do livro sobre a trajetória dos Mamonas Assassinas, o escritor Chérri Filho, 45, está com outra publicação de cunho biográfico no prelo: previsto para o final de maio, o livro que contará a história profissional de Fausto Silva e Lucimara Parisi promete dar o que falar. "Os dois estão super empolgados com esse trabalho", conta Chérri, que namora a diretora Lucimara há nove meses - passaram o carnaval em Natal.
O livro, ainda sem título, mostrará a carreira individual de Fausto e Lucimara, até o momento em que a dupla se conheceu em programas radiofônicos de esporte e humor, como o Balancê, da Excelsior. Será recheado por ilustrações e fotos da época. O destaque será a fase que engloba o programa cult Perdidos na Noite, que esteve no ar por 20 anos nas redes Gazeta, Record e, finalmente, Bandeirantes.
O Perdidos não era engraçado apenas na frente das câmeras. Os casos de bastidores serão ressaltados com bom humor por Chérri, através de várias histórias e depoimentos. Entre eles, o autor cita o do sambista Zeca Pagodinho, que certa vez foi trazido diretamente do morro, embriagado, por Lucimara; ela teve que dar um banho nele, de roupa e tudo, momentos antes de entrar no palco, de tão bêbado que o cantor estava. "Lucimara empurrava perua com a equipe, marcava as pautas do orelhão, era uma dureza só", diverte-se.